A partir do final da década de 1970 quando Steve Jobs e Bill Gates iniciaram sua história de competição e amizade no incipiente mercado de informática, só um deles soube enxergar o futuro. Era uma era de equipamentos caros, que rapidamente ficavam obsoletos. A Microsoft entendeu que a chave do sucesso seria fazer o comprador transformar esse investimento em ganhos de produtividade e assim dominou o mundo corporativo com seus softwares de apelo individual. Bill Gates anteviu onde aquela indústria nos levaria e venceu a primeira corrida contra a Apple – a da produtividade econômica.
O que Bill Gates não percebeu é que Steve Jobs estava, na realidade, 20 anos à frente daquele futuro. No lugar de desenvolver empresas, ele queria facilitar a vida das pessoas. O Macintosh (era assim, por extenso, que se escrevia o nome do principal produto da Apple), portanto, foi moldado para conquistar mentes e corações dos que precisavam criar: arquitetos, designs, publicitários, cineastas, músicos – era esse o primeiro e fiel público da Apple. O Mac era um equipamento muito mais caro que seu concorrente. Mas para os artistas da criação, o PC com seu Windows eram quadrados demais para fazer frente em funcionalidade, liberdade ou beleza. Envenenados pela mordida na maçã, essa tribo de inovadores fez da Apple uma empresa “cool”, dona de produtos de vanguarda, visualmente atraentes.
Em 1993, quando uma incipiente Internet ameaçava reinventar o futuro dos computadores, Bill Gates ficou preso às redes corporativas. “A Internet?”, disse ele numa entrevista. “Nós não estamos interessados nela.” Cinco anos se passaram, e ele reconheceu que o futuro havia mudado sem sua participação. “As vezes somos pegos de surpresa”, disse em julho de 1998. “Por exemplo, quando a Internet veio, a gente a tinha como quinta ou sexta prioridade.” A primeira vitória de Bill Gates se deu, na realidade, na última corrida do século passado – e agora o resultado dela já não tinha mais importância.
O mundo estava entrando na era Google e em muitos pontos a filosofia da nova gigante do mundo digital era similar à da Apple: facilite a vida das pessoas, seja confiável, ágil, organizado, simples. Processadores cada vez mais rápidos e potentes, servidores baratos e de grande capacidade de armazenamento transformaram a economia e a criatividade: música, texto, fotos, conversas, documentos, vídeos, planilhas, gráficos, jogos (e agora até amizades, namoros, aventuras e viagens) – tudo resumido a bytes, guardado e acessado em qualquer ponto do ciberespaço.
E então o futuro chegou onde Steve Jobs o imaginara mais de duas décadas antes e a Apple saiu na frente na primeira corrida do século XXI – a da economia criativa. Ele mudou os consumos da música com o iPod, da telefonia com o iPhone, da informação e do lazer digitais com o iPad. Steve Jobs liderou uma empresa que inventou muitas coisas que você não sabia que precisava. E daquilo que parecia supérfluo, ele fez uma necessidade de consumo, um instrumento cotidiano, e revestiu-lhe do mais importante: o valor sentimental.
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